segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

2004

Foi o ano das descobertas, o ano das primeiras vezes, ou melhor, da primeira vez de várias coisas! 2004, não sei como começou, nem onde... garanto que não foi no dia 1°de Janeiro! A real é que os anos nunca começam no primeiro dia, na virada! Enfim, começou de alguma maneira bastante despercebida, só fui me dar conta que tinha sido realmente essencial muito tempo depois!

O frio típico de Curitiba, com o céu azul límpido e sol convidando você a tomar um café preto longe de qualquer sombra. Não conseguia prestar atenção nas aulas, chegava no horário mas já fazia muito tempo que eu não mais assistia nada! As vezes passava a carterinha na roleta e pulava ela de volta, só pra poder contabilizar minha presença! Depois ficava a toa, apreciando o ar fresco de novidade, de pessoas e sensações novas de mais uma estrada se abrindo bem na minha frente!
Tinha dias que ficava o dia todo jogando sinuca: ria-se, olhava-se... eram flertes atrás de flertes! Flertes com a sorte, com o momento certo de furar a porta de trás do ônibus... aquela boa sensação de uma vez mais estar desviando os caminhos tradicionais e achar que as encaradas desaprovadas são um bom começo! Enfim, tudo
isso ainda juntando a sensação de primeira vez!

Eu costumava subir com eles mas acredito que fiquei uns longos três meses só acompanhando e recusando ao último qualquer tipo de entorpecente, minha vontade não era essa! Vivia como observadora constante e sempre que batia geral eu levava junto, a única menina no meio! Revistavam minha mochila e nada demais, era quase uma rotina... e eu nunca tive nenhum frio na barriga a mais, porque o cheiro nunca me acusava, jamais carregava nada comigo e flagrante até o então momento... também não! Lembro quando a viatura vinha ao longe e o primeiro ao meu lado me pegava pela mão, "é sempre mais fácil passar despercebido quando você tá com a tua mina do lado, neh!?".
Não lembro da sensação, na real... lembro que nada aconteceu! E eu fiquei esperando e me perguntando "po, mas é isso?? Pra que tanto alarde pra nada!" . Foi assim até a terceira vez, se não me engano! Quando senti pela primeira vez na vida meu corpo tomar outra dimensão, outra percepção, senti que ali começava muita coisa e senti que o mundo todo ainda era muito pequeno! Tá, talvez eu não tenha percebido tudo isso de cara, talvez naquele momento minha maior vontade era de ver meus próprios olhos vermelhos e sentir o cheiro entre os dedos... mas a verdade é que muito tempo depois eu pude perceber que naquele momento perguntas muito mais incessantes estavam apenas começando! E não falo exatamente do efeito em si mas falo sim, desta fuga, da fuga do mundo aparente pra um outro mundo qualquer, um verdadeiro escape da rotina, do bom senso, da mesmice e da falsidade competente, um refúgio compreendido. Talvez não caiba a todos, mas nada mais condenável do que aquele que condena o próximo por estar além da conta, por evitar mais uma vez a dura rotina imposta à ele por meio de entorpecentes... e é nesse instante que me pergunto “O que seria mais fácil de nos levar a loucura? Um uso constante de substancias moralmente condenadas ou a constante simplicidade banal da sua vida?”.

Talvez o seu mundinho rotineiro já esteja contaminado... e você ainda finge não ver...

Um comentário:

Sra. Xaropita disse...

Sair do tradicional é uma sensação muito boa e um tanto quanto atraente, o problema é entender que padrão é este, é conviver com as perguntas que nunca são respondidas, caminhar de mãos dadas com as interrogações até chegar uma altura da vida que nos questionamos ate que ponto vale a pena... ate que ponto somos nós ou eles os loucos? não sei! o que sei apenas que apesar do preço alto pago prefiro ainda continuar na contra-mão a ser meramente conveniente!